quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

mágica (série pílulas)

um corpo num banco de ônibus: desimaginado ônibus e banco: num momento

um corpo voa
sentado em nada

(para o Cadu, por seus 32 anos e por nossa amizade)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

entalada

Ela está na minha garganta

E acalenta o retorno

A regurgitada

A deglutida

Ela está em minha garganta

Amarrada

No laço

No traço curvo do meu pomo

Adâmica

Ela está em minha garganta

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A nossa amizade dá saudade no verão

Quando a rua sobe,

Há fios elétricos cruzando seu alto,

E um homem deitado no concreto

Descansa de um trabalho qualquer.



Quando a rua desce,

Há folhas pardas de amendoeira,

Capim crescendo entre paralelepípedos.

E uma velha caminha lenta, descontínua,

Vinda de um lugar qualquer.



(Para a Juliene, com saudade)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

tempo, sujeito

Tem muito tempo para o tempo se fazer
   
                  em poesia, em
                 
                                         árvore
                        (produto interno bruto da semente)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

sem nome (série pílulas)

                              cima                    
                         pra
                  subir 
Liberdade
                  descer
                           pra
                               baixo
                                
                              (nenhum degrau de culpa)

PÍLULA

Alguma coisa na palavra pulula: fácil engoli-la
Degustá-la já não diria:
  [pí-lu-la]

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O SUJEITO TRISTE NA AVENIDA


Meu corpo samba batucadas cardíacas
De tanto rir
De tanto assobiar
Perdido na passarela do outro corpo que um dia não será

Na ciência do fim, ainda assim, meu corpo vai e,
Como se fosse de ar, sente falta de medo
Da falta de jeito daquilo que acabará um dia

Desde o fim meu corpo segue até arrancar
A pele,
Qualquer amarra de proteção até
A mais sub pele,
Afunda,
A pele invisível,
Insensível,
A finita pele

A carne viva

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SÓ UM SUJEITO

Nessa terra é tudo questão de vida
                                               ou morte:
Ou mato minha fome,
Ou penso nas fomes alheias e
Morro
[Favela-bairro]

Porém, mesmo sabendo os sujeitos viver a terra nos
                                repartes da comida restante,
Sigo pensando na falta das armas de matar a miséria dos crânios:

Espero esmola de ganhar pão e papel e
Matar também a subnutrição de letras:

Quero alfabetizados lendo isso aqui. 

Que depois de fome e morte,
Coisa mais triste no mundo
É escritura não compartida.