Eu tinha seis anos e a tia Elza passava trabalhinhos de ligar os pontos
Hoje sei que eles servem ao desenvolvimento psicomotor das crianças
Com seis anos as crianças não pensam em psicomotricidade:
elas ligam os pontos
Hoje minha coordenação motora é frágil
(risco, corto e ando torto)
Com seis anos ligar os pontos era uma aventura tremenda.
Hoje, ainda hoje, temo não saber
Com seis anos a tia Elza me dava estrelinhas quando eu acertava.
Hoje, não
Que todos os territórios do sujeito se façam palavra e imagem. Que outros sujeitos caminhem por seus vincos. Que os traços das rotas se façam mapas. Que no além dos mapas ainda resista a vontade de se perder.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
O SUJEITO E A MÃO
O amor partiu por cinco mil horas
(Primeiro verso)
(Tento outros, contudo é clara a falta de inspiração.)
(Consolado por não ser Homero de batismo,)
(Sinto a vocação fêmea de Penélope:)
(Uso essas linhas frágeis tramas frouxas de enganar pretendentes)
(Tristeza, angústia e saudade se deixam levar.)
(Só não consigo em versos blefar com o desejo,)
(Substantivo impetuoso.)
(Abandono então a caneta.)
(E tenho a mão livre para se ocupar.)
(Primeiro verso)
(Tento outros, contudo é clara a falta de inspiração.)
(Consolado por não ser Homero de batismo,)
(Sinto a vocação fêmea de Penélope:)
(Uso essas linhas frágeis tramas frouxas de enganar pretendentes)
(Tristeza, angústia e saudade se deixam levar.)
(Só não consigo em versos blefar com o desejo,)
(Substantivo impetuoso.)
(Abandono então a caneta.)
(E tenho a mão livre para se ocupar.)
O SUJEITO NA LUZ AZUL
Alguns famintos morrem na tela
Eu, não:
Desligo o aparelho
E sinto muito
Sinto muito em meu estômago o peso do pão.
Sou uma criança gorda com fraldas e confortos
Tenho saliva a escorrer pelos lábios,
A molhar meus biscoitos de maizena.
Sou uma criança, só, uma criança:
Não desejo compreender nada
Não reconheço nenhuma dor
além das entranhas
Eu, não:
Desligo o aparelho
E sinto muito
Sinto muito em meu estômago o peso do pão.
Sou uma criança gorda com fraldas e confortos
Tenho saliva a escorrer pelos lábios,
A molhar meus biscoitos de maizena.
Sou uma criança, só, uma criança:
Não desejo compreender nada
Não reconheço nenhuma dor
além das entranhas
O SUJEITO RESISTE
Da cidade clara
ainda clara:
Luz
Atravessa os vãos do quarto
Ainda há quarto
Sei os cachorros vivendo, osso:
Aos homens - meus irmãos, todos buzinas,
todos meus iguais, motores –
Os cães sinalizam vida
E eu gravo num papel meu latido mudo
Intelespectado.
Fico só pensando.
E penso que se penso
Inexisto.
ainda clara:
Luz
Atravessa os vãos do quarto
Ainda há quarto
Sei os cachorros vivendo, osso:
Aos homens - meus irmãos, todos buzinas,
todos meus iguais, motores –
Os cães sinalizam vida
E eu gravo num papel meu latido mudo
Intelespectado.
Fico só pensando.
E penso que se penso
Inexisto.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
A MATÉRIA DO SUJEITO
Vá construindo uma viela ao norte-sul do corpo
Pare a meio caminho entre a cabeça e os pés
Ouça ruídos internos móveis
Aprofunde no escuro orgânico
Encontre a dor vizinha
Exilada em zona gástrica
(fome)
Racionalize a mecânica da continuidade
(fome)
E meça não haver suporte para tais espasmos
(fome)
Você não agüentaria desistir
Não poderia
Você não é deus
Nem nada
Pare a meio caminho entre a cabeça e os pés
Ouça ruídos internos móveis
Aprofunde no escuro orgânico
Encontre a dor vizinha
Exilada em zona gástrica
(fome)
Racionalize a mecânica da continuidade
(fome)
E meça não haver suporte para tais espasmos
(fome)
Você não agüentaria desistir
Não poderia
Você não é deus
Nem nada
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
O SUJEITO DELIRA
Escrevo em moto perpétuo
a tingir voltas de escrita
em velocidade alta
curvas de tinta
riscos e vida.
Apago letras como cobrisse ferimentos,
examino ininspirações expostas
imprimo, no fim, restos de verborragias internas,
escrituras orgânicas,
quase versos.
a tingir voltas de escrita
em velocidade alta
curvas de tinta
riscos e vida.
Apago letras como cobrisse ferimentos,
examino ininspirações expostas
imprimo, no fim, restos de verborragias internas,
escrituras orgânicas,
quase versos.
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